Reportagem especial

Santa Maria exportou mais de R$ 3,7 bilhões em 2021

Francine Boijink


style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Marcelo Oliveira (Especial)

As exportações em Santa Maria representaram R$ 3,77 bilhões no ano passado. Com 89 empresas que direcionaram parte da produção ao mercado externo, o município ocupava a 12ª posição no Estado no que se refere ao número de empreendimentos, de acordo com números da prefeitura e da Receita Estadual. Um cenário avaliado como discreto e que, ao mesmo tempo, tem crescido muito.

Santa Maria é reconhecida como um polo formador de mão de obra qualificada. A cada ano, graduam-se cerca de 6 mil estudantes nas instituições de Ensino Superior locais. Ao fim dos estudos, grande parte dos profissionais pega os diplomas expedidos no município e vai em busca de empregos em outras cidades, Estados e até países.

Além de "cérebros", os produtos mais enviados daqui ao Exterior são implementos agrícolas, cereais, equipamentos odontológicos, tecnologia e carne. Para se fazer uma comparação, outras informações dão conta de que, em 2013, eram 12 empresas. No ano passado, a indústria representava 53,8%, seguida pelo atacado, com 18,7% e varejo 12,1%.

Em 2013, Santa Maria ocupava a oitava posição entre as 10 maiores cidades gaúchas, no que se refere à exportação. De acordo com os dados mais recentes divulgados pela Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm), o volume representava, à época, US$ 30 milhões, o equivalente a R$ 162 milhões em valores atuais (confira no quadro da página 24). Em um período de 13 anos, a partir de 2010, esse foi o segundo maior valor, ficando atrás apenas de 2012, quando as vendas ao Exterior chegaram a US$ 34,3 milhões, o equivalente a R$ 185 milhões.

Um banco de dados atualizado deve ser elaborado por meio de convênios que a Adesm está formalizando com instituições de ensino (leia mais na página 26). Há carência no que se refere ao conhecimento da população em relação às características produtivas da cidade e às mais variadas formas de incentivo para que os empreendedores possam investir ou ampliar seu potencial exportador.

A apresentação de novidades e a solução de problemas são demandas atuais do mercado de exportação, que podem ser atendidas com a força de um departamento tecnológico. Além de se voltar a criações, o que se almeja, neste contexto, é a melhoria do já existente de uma forma tecnológica. As vendas a outros países estão atreladas, também, ao próprio fortalecimento do mercado interno, com a criação de espaços para os novos empreendedores.

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UNIÃO DE SETORES

Para o empresário e diretor presidente do Santa Maria Tecnoparque, Alex Carvalho Lencina, a partir das boas ideias e com material humano para suprir os empreendimentos do Parque Industrial e Tecnológico (antigo Distrito Industrial), será possível desenvolver melhor os produtos e qualificar a exportação.

- Tem que contar com todos, com o Tecnoparque, com as indústrias do parque, com toda a cidade, a prefeitura, as universidades e também a imprensa. Todos podem ajudar a fortalecer esse elo, que vai desenvolver mais produtos e vai transformar Santa Maria em uma cidade verdadeiramente exportadora de produtos, de tecnologia e de inovação. Essa é a nossa visão - ressalta.

Uma carência percebida por Lencina é o fato de a comunidade desconhecer as características produtivas de Santa Maria. O trabalho desenvolvido no segmento exportador vai além da área do Parque Industrial e Tecnológico, onde o Tecnoparque está sediado, sendo voltado à comunidade. Isso passa por ações desenvolvidas em instituições de ensino, estimulando a ideia com foco no empreendedorismo em crianças e jovens.

- Se não tivermos jovens para suprir mais para frente essas indústrias, aí estagnamos. O Tecnoparque precisa ter apoio de todos para que ele tenha visibilidade - reforça Lencina, ao mencionar que a direção do local atua sem fins lucrativos, sendo que todos os valores são reinvestidos em tecnologia e inovação.  

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PARQUE TECNOLÓGICO

O Parque Tecnológico de Santa Maria (Tecnoparque) está voltado à atuação nas mais diversas áreas de inovação tecnológica e social. Atualmente, são 22 empresas residentes, que atuam em segmentos direcionados ao desenvolvimento de software, defesa e segurança, treinamento pessoal e impressão 3D.

Duas empresas instaladas no local, além do mercado interno, também estão investindo nesse potencial de exportação. Uma delas é a Dreaming Dogs, desenvolvedora de ferramentas voltada à utilização na elaboração de desenhos técnicos. Com pontas em diferentes formatos, elas passaram a ser utilizadas em caligrafias artísticas e expressivas.

A empresa, que nasceu tanto de um sonho quanto da necessidade de criação de produtos diferentes e inovadores, que respeitem ao meio ambiente, leva o nome de Santa Maria para clientes de outros países e continentes.

A outra é a TSB Tecnologia Sul Brasileira, focada em maquinário para o agronegócio, com mercados, no que se refere à exportação, na América Latina e na Europa e oeste da Ásia. E o foco de expansão já faz com que, além dos países que já são clientes, outros passem a integrar essa lista.   

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APELO AMBIENTAL 

Ao exportar para países da América Latina, da Europa e do oeste da Ásia e com a busca de expansão de mercados, a gestão da TSB Tecnologia Sul Brasileira, voltada ao maquinário para o agronegócio, tem considerado o panorama de vendas ao Exterior como positivo. Instalada no Santa Maria Tecnoparque, a empresa tem no kit eletrônico para pulverizador eletrostático um produto com uma demanda crescente em âmbito internacional.

O apelo ambiental, de acordo com um dos administradores da TSB, Leonardo Kozoroski Veiga, faz com que se desenvolva esse panorama. É a busca pelo menor impacto possível das operações de produção agrícola no meio ambiente, pois a pulverização eletrostática permite controlar a quantidade de agrotóxicos na plantação.

- Para diminuir desperdício de defensivos agrícolas, a gente consegue fazer com que o produtor coloque menos produto fora, economizando dinheiro, diminuindo dano ambiental para o solo e para o ar, à deriva. É um produto que tem um apelo ambiental bastante forte, e os países desenvolvidos estão trabalhando muito nesse ponto, de melhorar a relação com o meio ambiente - explica Veiga.

A expectativa é de que, neste ano, as exportações sejam alavancadas. Um dos países de destino dos kits pulverizados é a Turquia, que fica entre a Europa e o oeste da Ásia.

- A gente tem, na América Latina, a Argentina e o Equador. Estamos trabalhando o Uruguai, tentando buscar Paraguai. Depois, consolidado na Europa, Portugal e Espanha, e aguardando a visita de um empresário da Turquia. Há outros países em que ainda não começamos a trabalhar, mas que temos patente. Iremos atuar nos Estados Unidos, na África do Sul, na Índia, na China e no México, depois de consolidar um pouquinho melhor (o mercado) da Europa - revela Veiga.

UNIVERSIDADES

O administrador da TSB ressalta que Santa Maria possui a vantagem de ter a UFSM. Com a mão de obra qualificada local, o município possui todo o potencial para se configurar como uma grande exportadora. Além disso, ele percebe também que a tradição do setor do agronegócio está começando a se consolidar no centro do Estado.

- Em um futuro próximo, Santa Maria pode se destacar no cenário nacional como uma grande fornecedora de soluções para o agro e, por que não exportar, né? Já que estamos com questão cambial bastante competitiva. Vejo com bastante otimismo a exportação não só para a minha empresa, mas para outras que desenvolvem tecnologia para o Agro. É uma demanda global - contextualiza Veiga.  

PERFIL ECONÔMICO DE SANTA MARIA

  • População - 285 mil pessoas (estimada em 2021)
  • Orçamento anual (2022) - R$ 972,5 milhões
  • PIB anual (2018) - R$ 7,7 bilhões
  • PIB per capita (2018) - R$ 31.074
  • Volume de exportações (2021)  R$ 3,77 bilhões
  • Principais produtos exportados - Maquinário agrícola, tecnologia, equipamentos odontológicos, carne e cereais (especialmente arroz e soja)

Fontes: IBGE, Fundação de Economia e Estatística do RS e Sebrae

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ALTERNATIVA ÀS CRISES NA AGRICULTURA

A necessidade de diversificação de produtos e também de mercado em função de momentos de crise fez com que a Agrimec, empresa de implementos agrícolas com quase 50 anos de atuação em Santa Maria, percebesse oportunidades de comercializações não apenas no território gaúcho, mas também no Exterior. No momento, a empresa exporta para 31 países da América, da Ásia e da África.

Esse incremento de mercado proporcionou, além de uma fatia considerável de faturamento, a menor suscetibilidade às crises cíclicas enfrentadas pela agricultura no Brasil.

- É um caminho muito longo até se chegar a isso. O ponto mais importante que fez com que a Agrimec se desenvolvesse foi a participação em feiras - comenta Fernando da Rosa Abreu, gerente de exportação da Agrimec.

A fábrica é voltada à produção de 28 produtos, totalizando cerca de 100 modelos. No portfólio de equipamentos, a plaina niveladora modelo Robust é o carro-chefe tanto para o mercado interno quanto para exportação. O equipamento é usado para preparar a terra para o plantio.

- Independentemente da cultura que vai trabalhar, precisa fazer preparo do solo. Pode fazer com o mesmo equipamento, e temos equipamento que faz isso - explica Abreu, ao mencionar que não adianta fazer prospecções se o produto da empresa não for considerado muito bom.

simples e eficaz

De acordo com o gerente de exportação, a empresa oferece produtos simples, de fácil entendimento do comprador, e ao mesmo tempo muito eficazes.

- Tem tecnologia embarcada, obviamente, mas não precisa ter um computador na máquina, tem que ter uma máquina eficaz que faz aquele serviço a que ela se propõe a fazer. Esse é o nosso diferencial. A gente sabe que tem produtos muito bons, que são simples, que serão de fácil entendimento para quem está do outro lado e vai receber aquele produto - informa.

Fernando Abreu também reforça que deveria haver mais incentivo para empresários que ainda não exportam.

CIDADE CARECE DE POLÍTICA DE APOIO ÀS EXPORTAÇÕES

Enquanto o câmbio desvalorizado é elencado com fator positivo para as exportações, fazendo com que os produtos fiquem mais baratos, a infraestrutura e a logística acabam sendo entraves para que os produtos de Santa Maria conquistem e se expandam ao cenário internacional.

Conforme o professor Daniel Arruda Coronel, do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é necessário que a cidade saiba vender melhor o seu produto, com os órgãos institucionais sendo adequados ao exportador, com informações em diferentes línguas.

- Um terceiro ponto que eu julgo muito importante quando a gente fala em exportações é um marketing pró--exportações e informações corretas sobre isso, ou seja, um órgão, não estou dizendo a criação de mais secretarias, que tenha informações atualizadas, fidedignas, que ajudem o exportador a verificar melhor o seu nicho, para quais os obstáculos que ele vai ter, quais os produtos mais demandados, entre outras questões - afirma o professor.

Coronel menciona que esses seriam alguns gargalos que precisam ser superados para Santa Maria ter competitividade no que tange às exportações.

Ações relacionadas a políticas específicas, linhas de crédito e de financiamento, são elencadas como necessárias para fomentar o setor exportador.

- Todos os países que estão desenvolvidos têm um estado altamente promotor do desenvolvimento econômico e social - destaca.

A falta de informações claras sobre a economia de Santa Maria é visto na prática ao buscar números sobre as exportações. As fontes oficiais estão desatualizadas. Um estudo feito pela Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm), intitulado Santa Maria em Dados, tem informações somente até 2013. Naquele ano, Santa Maria exportou US$ 29,7 milhões, o equivalente, em valores atuais, a R$ 160,3 milhões.

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CRESCIMENTO DISCRETO

O valor é bem diferente do dado atual divulgado pela prefeitura. Em 2021, as exportações somaram R$ 3,77 bilhões. De acordo com a secretária de Desenvolvimento Econômico de Santa Maria, Ticiana Fontana, esse valor representa em torno de 25% dos R$ 15,6 bilhões referentes as emissões de notas fiscais de vendas de produtos ou serviços em circulação no ano. Segundo ela, o mercado exportador pode ser considerado discreto, mas tem crescido muito.

- O mercado exportador está muito vinculado ao agro, à produção primária, enfim, justifica uma série de questões que estão sendo observadas na cidade, como a retomada da Expofeira, um ingrediente que canaliza ainda mais esse setor com foco nisso. O agro e a indústria da transformação podem potencializar o que já existe, que o nosso grande carro-chefe é a questão da soja, e outros grãos que são exportados - diz Ticiana.

A secretária afirma que as questões ligadas à logística fazem a diferença, com uma boa malha rodoviária, tendo conexões, e da malha ferroviária importante para escoamento da produção e do aeroporto:

- Há empresários que vêm para cá via aeroporto. Ainda na área da logística, a nossa infraestrutura em fibra óptica é importante. É um mercado que está maduro e mostra que a gente tem muitas oportunidades.

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Foto: Divulgação/Agrimec

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